terça-feira, 20 de setembro de 2011

CINCO - Hospital



                                                                                    Sonho:
Eu estava caminhando sobre um corredor escuro, não era possível nem mesmo ver minhas mãos, o ambiente era úmido e frio, o chão estava coberto de sangue e podia sentir o odor de gente morta. No fim do corredor havia uma porta, e quando eu a vi, mãos, milhares de mãos me puxaram, eu olhei para trás e só vi escuridão, podia se ouvir os gritos era como berros de tormento, pessoas sendo torturadas. Mas eu não chegava ao fim e nem no começo, as mãos me seguravam e...
Acordei suado e muito assustado, sem duvidas eu estava em minha cama, - Talvez tudo isso tenha sido apenas um sonho. Levantei da cama e fui até lá em baixo, caminhando até a cozinha, dei uma olhada para o quarto de minha mãe, não consegui ver nada, então apenas desci as escadas rumo a cozinha para pegar um copo com água. Acendi as luzes da casa, e estava tudo perfeitamente em seu devido lugar, me alegrei com essa visão. Fui até a cozinha e tomei meu copo com água. Fui subindo as escadas normalmente, dessa vez sem desespero, mas quando cheguei à porta do meu quarto, algo não estava normal, da distancia que eu estava da porta, eu conseguia ouvir um barulho de algo se mexendo, olhei para trás rumo às escadas só havia breu. Fui até o apagador do meu quarto e acendi a luz, vi algo atormentador, era um garoto cheio de sangue por todo o corpo, o seu cérebro estava para fora, suas mãos estavam sujas também, ele estava perto da janela, era eu mesmo, aquele garoto só podia ser eu. Ele começou a andar, se abaixou, de modo que seus joelhos apoiassem o chão, e foi para de baixo da cama. Fiquei um tempo assustado, e calado, me virei de costas e fui até o quarto de minha mãe, acendi a luz e só vi sangue por todo o quarto. Era só mais um sonho.
Foi o sonho mais estranho que eu tive, agora ao invés de eu estar suado em cima da cama, eu estava em outro lugar, mas eu não podia descrever, meus olhos estavam embaçados, mas ainda sim eu podia ver pessoas me olhando, parecia muito com o padre que eu vi e a minha mãe. Eu escutava do lado do meu ouvido um -piii, piiii, piiii. Como se fosse aquelas coisas de hospitais para mostrar se estou vivo ou morto. Veio um homem do meu lado, eu estava deitado, ele falou algo como, - Precisamos que ele fique no hospital essa noite, ele não está em condições de ir para casa hoje, na queda do desmaio ele bateu a cabeça no chão e isso o prejudicou.. Eu não conseguia falar nada, só fui fechando o pouco que os meus olhos conseguiram abrir, e as poucas coisas que eu escutava estavam desaparecendo no ar, aos pouco até que adormeci outra vez. Acordei meio confuso, mas a minha visão já estava um pouco melhor, eu conseguia ouvir o medico dizer coisas como, - Ola!Ola! Com uma lanterninha na direção dos meus olhos.
-Cadê minha mãe?Perguntei meio sem voz.
-Ela teve que ir embora para ver o que havia acontecido com o seu pai, não faça esforços, continue deitado.
Fiquei meio preocupado, e comecei a chorar, na verdade eu ainda não tinha acreditado que meu pai tinha mesmo sido morto, chorei até que peguei em um sono.
Acordei no meio da noite, no relógio era quatro e meia da madrugada.Agora minha visão já estava boa, e eu já podia ver como era a sala, era comum, minha cama, a porta logo a minha frente e alguns vasos de flores encima de uns criados.Mesmo com tudo que aconteceu eu ainda estava meio estranho, sentia uma presença ruim, como se algo estivesse me vigiando vinte quatro horas por dia.A porta da sala de hospital começou a abrir, a maçaneta moveu, mais foi bem devagar como se alguém quisesse me dar um susto, e até agora estava funcionando.A porta se abriu completamente, e não havia nada do lado de fora.Fiquei olhando para o lado de fora da sala, e era muito estranho uma porta que estava totalmente fechada se abrir sem mais nem menos.Eu estava mais uma vez assustado, parecia que tinha alguém lá, mais não era possível confirmar por causa da escuridão. Enquanto eu ficava olhando para a porta ela ia se fechando devagar, até que bateu e fez um barulho, a maçaneta se moveu e a porta se fechou outra vez.O vento frio invadiu a sala e a janela começou a se debater consigo mesma.Foi ai que me assustei mais, tentei me levantar da cama, mas me deu uma forte dor na cabeça.Estava muito frio, me cobri e tentei dormir, fechei meus olhos.
Comecei a escutar uns barulhos estranhos, junto com a janela se debatendo, parecia alguém mechando em papeis, me segurei para não abrir os olhos, mas eu tinha que ver o que era isso.
Abri bem devagar e não tinha nada ali, virei o rosto para o lado e fiquei com os olhos abertos, A minha cama começou a se mover devagar, como se tivesse alguém ali debaixo, fui ficando mais assustado, levantei o coberto devagar e fui abaixando a cabeça para debaixo da cama e não tinha nada La também, levantei a cabeça e quando olho para a porta tem algo a sua frente, era preta, escura e bem estranha, era em um formato de pessoa, mas ficava lá parada, eu já estava apavorado e não conseguia falar nada, aquilo parecia uma morte, essas coisas, mas dava pra ver que estava com a cabeça baixa, passou alguns segundos e aquilo continuou ali, até que levantou a cabeça. Seu rosto era pálido e sujo, na sua boca podia se ver sangue e não tinha olhos, era só o negro, escuro. Aquilo ficou olhando para mim e eu deitado com medo, sem forças para gritar ou chamar alguém, aos poucos à coisa negra foi abrindo a boca e ia escorrendo sangue devagar, todo o sangue ia passando por seu corpo até chegar ao chão, foi encharcando o chão até que quando me dei conta já tinha sangue até em minha cama. Aquilo começou a respirar forte, e cada vez, mas até que foi se transformando em um berro assustador, e eu no meio daquela suposta transformação de sala de hospital para piscina de sangue. Estava complicado, parecia que tudo foi ficando mais lento e devagar, o sangue já estava a minha altura com a da cama, melando de todo o lançou, aquela maldita coisa estava parada como se só quisesse me olhar para me assustar, mais eu não estava mais tão assustado assim, eu estava vendo tudo rodar e meu ar foi ficando mais forte até que fiquei mole e desmaiei com a imagem daquele monstro a minha frente.
Agora eu acordava normalmente com o medico do meu lado fazendo anotações em um caderninho e pondo uma coisa para ver meus batimentos, fiquei meio assustado ao lembrar-me da noite passada.
-O que aconteceu?Perguntei meio fraco outra vez.
-Não sei dizer ainda garoto, mas você não está muito bem, ontem você vomitou sangue. Vou te examinar. Disse o medico meio apavorado, como se eu estivesse prestes a morrer.
Fiquei na cama e ele me perguntando se eu me lembrava de algo na noite passada, respondi que não, quem iria acreditar em tal historia, provavelmente pesariam que eu estivesse ficando louco e me colocariam em alguma clinica pra loucos adolescentes, então deixei quieto e achei melhor esperar para outra oportunidade, acho que seria bom minha mãe saber disso.
-Minha mãe vem aqui hoje?Perguntei para o medico que ainda me examinava.
-Não sei Diego, mas ela tem trabalho para hoje, e infelizmente você não pode ir embora daqui até eu ter certeza de que você ficara perfeitamente bem.
Apavorei-me com a resposta, pois imaginei se todas as noites seriam assim, como a passada. Eu perguntei ao medico o que poderia estar acontecendo comigo, ele disse que era uma coisa complicada, era a primeira vez que ele havia examinado um garoto de dezesseis que parecia ter uma doença rara, isso complicou muito mais a situação. Alguns minutos depois minha mãe ligou para o medico para perguntar como é que eu estava, o medico explicou minha situação e ela desligou o telefone. O medico estava mais uma vez me examinando, e a cada examinação feita comigo, ele mostrava que estava mais preocupado.
A noite ia chegando, e eu ia ficando mais nervoso, com medo de que aquele monstro visse de novo no meu quarto. O medico veio até mim e se despediu, disse que qualquer coisa era só pegar o telefone ao lado da cama e ligar para alguém ou até mesmo gritar. Já podia se ver o sol indo em borá pela janela do quarto, até que chegou a noite, me deixaram lá sozinho, pra falar a verdade nem parecia ter alguém no hospital, tava em um silencio assustador.
2º noite
Já era noite, e minha tinha acabado de chegar, ficou fazendo algumas perguntas para mim sobre o meu pai, e ela fez uma pergunta que me deixou meio constrangido, perguntou o porquê de eu não ligar para alguém no momento da morte de meu pai, mas eu tinha ligado como ela iria acreditar em algo tão estranho como aquele, - liguei, mas você estava na cozinha quebrando os moveis. Ela riria da minha cara, então só falei que fiquei com medo do que ela poderia achar de mim, mais ela deve estar imaginando coisas piores sobre mim agora. Ela foi embora e eu não tive a mínima coragem de contar qualquer coisa que se relacionava com ontem, ela não acreditaria. Agora eu estava mais uma vez assustado, mas dessa vez menos, imaginei que o telefone do meu lado poderia me ajudar. Senti meus olhos ficando pesados, o vento entrando pela janela e roçando o meu rosto, até que adormeci sem querer. Agora eu estava em outro sonho, eu estava na cama do hospital, havia sangue por todas as partes do quarto, mas não eram poças, era apenas sangue seco, nas paredes e no chão, todos os meus aparelhos estavam desligados, tentei me levantar e consegui, mas por pouco não cai no chão. Sai mancando pelo quarto, derrubando tudo que poderia ter chance de cair, estava muito silencioso, mas quando abri a porta, uma imensa onda de gritos se soltou por todo o hospital, não se via nada, apenas breu, aquele escuro maldito que parecia tanto me perseguir. O pouco que se podia ver era algumas coisas se mexendo tão rápido que pareciam mesmo vultos. Tentei voltar para o quarto, mais de trás da porta não havia mais nada, o breu também tinha tomado conta de lá. Estava frio e tenebroso como todas as vezes que isso acontecia. Veio algo da escuridão ao meu rumo, estava andando devagar, parecia estar com mais medo que eu, não dava para ver direito o rosto, mais era uma menina, ela veio e triscou em meu rosto, e quando ela triscou tudo desapareceu, é como se eu tivesse sido engolido vivo por ela. E tudo se escureceu. Acordei assustado e suado, foi mais um sonho irritante. Estava escuro como de se esperar, peguei o telefone e tentei ligar para alguém, mas não deu nem sinal. Levantei e sai andando até a porta, ao contrario do sonho, eu estava mais firme e não esbarrei em nada, aquele silencio de parecer não ter ninguém no hospital era o que me assustava outra vez, do jeito que as coisas andavam era bem possível mesmo não ter ninguém lá. Sai do quarto e tinha pouca luz no corredor, algumas cadeiras jogadas no chão e apenas uma porta aberta, logo um pouco a frente. Era velha a porta, o hospital nem parecia mais o mesmo, mas sim, era o mesmo hospital, só que em uma versão mais velha, antiga. Fui caminhando até a porta que estava aberta, sem tanto medo. O caminho até a porta era medonho, eu nunca tinha passado por um corredor tão estranho como esse, frio, fedido, e com alguns rastros de sangue na parede. Achei melhor não voltar, o clima do quarto era muito pior do que o clima do corredor. Fui caminhando até que cheguei à porta, estiquei um pouco a cabeça para dar uma olhada no que podia haver lá dentro, era um quarto de paciente, comum, mas sem paciente. Entrei no quarto e fui até a janela, olhei atentamente, ela dava diretamente para a rua, o, mas ruim e que não havia ninguém também nessa rua, só alguns carros que pareciam estar quebrados. Fiquei meio abismado, e virei de costa, no momento em que virei de costas, a porta havia se tornado em um buraco estreito, negro e obscuro, nele não tinha luz alguma, dava para ver alguns pedaços da porta que estavam quebrados e estilhaçados no chão. Não consegui imaginar nem um jeito de sair dali agora, o jeito era entrar no buraco ou ficar parado ali. Fui até o buraco e apenas puis a cabeça um pouco lá dentro, não podia ver nada, então resolvi entrar, tive que me agachar e ir rastejando. De lá do fundo pude ouvir algo meio assustador, era uma voz cantarolando uma musica que por de fato era também bem assustadora, era Lacrimosa, uma opera antiga. Parei por alguns segundos e pensei se era mesmo isso que eu devia fazer, mas como não tinha outra escolha, continuei, até que a voz foi ficando mais alta, como se eu estivesse chegando mais perto, e bem no fundo dava para ver um buraquinho bem pequeno, fui apressando, pois parecia ter algo atrás de mim, não dava pra ver o buraco era muito estreito, o espaço era muito pouco para eu poder movimentar minha cabeça. Fui indo mais rápido, até que quando olhei eu cai no chão, era o chão do corredor do hospital, mais o buraco não tinha acabado ele desapareceu, e eu estava lá no corredor do hospital, sozinho, no escuro. Levantei-me e procurei alguém, mas não tinha ninguém pelo menos ali por perto. Bem no fundo do corredor tinha uma luz de teto, piscando rapidamente, era a luz que dava de frente para o meu quarto, fui caminhando até meu quarto, abri a porta e entrei, estava frio como antes, e pela janela já se podia ver o sol nascer. Deitei-me e aos poucos adormeci, mais nada aconteceu, dormi em paz dessa vez.

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