quarta-feira, 23 de novembro de 2011

SETE - Outro lugar



Já não estava tão escuro como antes, mas meu medo era praticamente o mesmo, se não fosse por aquela mulher estranha que eu havia visto há alguns minutos atrás eu estaria mais tranqüilo. Mas o que também piorou isso foi a mudança na cidade, não era o mesmo lugar, parecia que tudo tinha apodrecido, como se eu tivesse ficado dentro daquela casa por eternidades mas não fiquei nem meia hora. Eu estava em uma situação assustadora, no escuro, sozinho, sem saber aonde ir, o único jeito é continuar andando em qualquer rumo com coragem, se eu morrer talvez seja melhor e acabe com esse tormento maldito. A lanterna já não funcionava mais, eu via poucas coisas, via algumas casas de madeira que aparentemente estavam quebradas, mas nesse escuro não se podia ter certeza de nada. Em alguns momentos enquanto eu estava andando eu escutava umas pegadas, e o mato se movendo, de certo modo dava pra sentir que tinha alguém me vigiando por de trás dos arbustos, eu sentia uma presença tão ruim que a casa barulho que eu ouvia eu sentia um arrepio correndo pela espinha até os cabelos da cabeça.
Andei, andei e nada apareceu, o lugar em que eu me encontrava agora era com a mesma aparência tenebrosa. Onde eu estava agora tinha uma loja de conveniência, acho que o único jeito era entrar para ver se eu tinha a sorte de achar algumas pilhas para ligar novamente minha lanterna. Entrei pela porta principal que era de vidro. A loja estava toda destruída, parecia que havia passado um furacão por lá, garrafa de bebidas jogadas ao chão, estantes onde ficavam os alimentos, caídas, estava tudo muito bagunçado o que poderia dificultar para eu achar as pilhas. Esse era o único lugar que havia luz, mas as luzes pareciam estar fracas. Pareciam aquelas cenas de terror, mas realmente eu estava vivendo um momento de terror. Continuei procurando por pilhas, mas estava difícil de encontrar, as estantes era muito pesadas e eu não conseguia levantá-las sozinho. Atrás do balcão da loja havia uma porta, decidi entrar. No balcão havia alguns trecos que eu não fazia a menor idéia do que podia ser. Abri a porta devagar, eu já estava com mais medo, era tudo muito escuro, então deixei a porta aberta para a luz que estava do outro lado da loja clarear o máximo que puder lá dentro, para que talvez eu encontrasse as pilhas e conseguisse sair dali. Era meio difícil descrever o local, eu ouvia barulho de água, e gotas pingando, eu já me assustei um pouco com isso, mas eu não podia dar meia volta. Vasculhei até que as encontrei e rapidamente sai dali. Coloquei as pilhas e ela funcionou perfeitamente.
Após alguns segundos de eu acender a lanterna, escutei um barulho de alguém chorando, era choro de angustia e medo, mas não era de uma criança, parecia choro de mulher adulta.
- Hei!Tem alguém ai? Perguntei meio baixo, mas nada respondeu e choro continuou até que eu entrei lá dentro outra vez. Passei a lanterna por todo o lugar, mas não encontrei nada, até que discretamente a porta por onde eu tinha entrando começou a se fechar, foi aonde meu peito começou a doer de tanto medo, e quando menos percebi entrei em desespero. Com o coração a mil comecei a caminhar, mas sem direcionar a lanterna para algum lugar além da porta. Tentei abri-la, mas não consegui. Parei e fiquei quieto com a lanterna rodando sobre o local, até que no canto do lugar eu vi uma pessoa agachada, ela estava com o peito sobre o joelho, escondendo o rosto, e com um choro bem baixo, que cada calafrio no corpo que eu chegava a ficar mole. Com a voz falha e tremendo os lábios perguntei:
- Quem é você? A pessoa nem se móvel, continuou ali parada e chorando.
Fiquei calado por uns segundos, até que rapidamente a pessoa que estava ali chorando levantou o rosto e pude ver seus olhos olhando diretamente aos meus, era sim uma mulher, ela estava seria e com um olhar tão profundo que ardia dentro de mim. Não consigo explicar o que eu senti, mas era um pânico de eu não saber o que fazer um pânico de não sair voz. A mulher não parava de olhar para mim. Ela começou a se levantar, ela levantou de um jeito muito estranho, foi como naqueles filmes de terror, primeiro forçou os pés, depois as pernas, o tronco e enfim a cabeça, ela se levantou exatamente nessa ordem, deu para escutar o estralo de sua espinha e ela se levantou assim sem tirar os olhos de mim, enquanto ela se levantava dava pra ver seus olhos encarando os meus com a brecha que ela deixou para seus olhos. A mulher estava com uma roupa de dormir, camisola. Ela ficou alguns segundos ali, até que chegou para trás, pois as mãos na parede e foi subindo, como se tivesse um tipo de grude nas mãos, ela subia se contorcendo, movendo a cabeça de modo aterrorizando, ela ia movendo a cabeça como se estivesse dando um ataque. Ela subiu até encostar a cabeça no teto, e isso tudo sem tirar os olhos dos meus. Depois disso tudo, ela começou a tentar falar, saia algumas palavras, mas não era uma língua que eu conhecia, parecia Hebraico ou coisa assim. Deu-me mais medo ainda. A mulher começou a raspar as unhas da parede, até chegar ao ponto de quebrá-las e começar a sair sangue. Ela começou também a bater os dentes uns nos outros, chegando a fazer certo barulho. Eu já não sabia nem o que pensar, ver aquela cena, e saber que poderia ser a minha última cena da minha vida, não é a melhor coisa de se pensar em uma hora dessas, mas isso era a única coisa que se passava na minha cabeça. A mulher der repente caiu no chão de modo brutal, como se fosse um boneco de pano e dali mesmo começou a se arrastar em minha direção. Eu já não me movia, e na melhor hora quando a mulher estava diante de meus pés a lanterna se desliga sozinha, o que aumentou meu medo. Tentei ligá-la enquanto chegava para trás, mas não adiantava, e mais uma vez eu me encontrava em um total escuro. Eu não via definitivamente nada, só escuridão.
Der repente senti uma respiração roçar o meu rosto, fui chegando para trás devagar, mas a respiração não saia dali, e enquanto eu chegava para trás eu escutava passos quase junto com os meus, então foi ai que imaginei que a mulher estaria com o rosto colado com o meu, e com certeza olhando nos meus olhos. Fui movendo as mãos para frente, para ver se a mulher estava mesmo na minha frente, então senti um corpo com roupa de pano fino. - Sim a mulher estava agora em minha frente. No meio de todo aquele silencio tenebrante, começa outra vez o choro, e agora estava mais alto, e no meio desse choro veio um berro que me deixou com os ouvidos doendo. Eu estava imóvel de tanto pânico. Até que tudo parou outra vez, o silencio dominou o ambiente e comecei a sentir uma leve tontura. Eu ainda estava sentindo a respiração roçar meu rosto, mas estava mais forte, era como a respiração de alguém desesperada, com raiva. E do nada, senti uma mãos gelada como a neve tocar meu braço, estava apertando com tanta força que se eu ficasse com aquela mão me apertando era possível quebrar meu pulso, mas der repente a mão me soltou e senti apenas uma pressão fortíssima em meu estomago, era como se eu tivesse sendo levado por um carro em alta velocidade, eu me choquei contra a porta de um modo tão forte que chegou a quebrá-la eu quando abri os olhos para ver onde eu estava eu já me encontrava do lado de fora da loja, no chão sentindo uma coisa gelada percorrer minhas costas, eu havia caído em cima das bebidas quebradas no chão. A porta estava com um buraco e dava para ver apenas a sombra da mulher chegando para trás e desaparecendo na escuridão. Então resolvi fechar os olhos por alguns segundos, apenas para relaxar, e quando os abri, a mulher estava em cima de mim com os olhos fixados nos meus, e enquanto ela olhava-me ela soltava berros seguidos, um atrás do outros, berros que duravam dois ou três segundos, fazendo meu coração bater em uma velocidade que nunca tinha batido antes em toda minha vida. Eu estava olhando para aquele rosto fúnebre e pálido que me deixava sem reação, então fechei os olhos, pois a dor da pressão sofrida a pouco tempo que acabará de quebra uma porta, me deixou com lesões no dentro do corpo, fazendo- me pensar que eu não teria mais vida daqui a alguns segundos.
Tudo parou, os berros haviam parado. Então abri os olhos e não tinha mais nada, mais eu ainda me encontrava no mesmo lugar. Forcei-me para levantar e sair o mais rápido possível dali, mas quando senti uma forte dor no estomago e nas costas, me deitei outra vez no chão. A lanterna estava um pouco longe de mim, ela estava há minha frente, e estava acesa, mas piscava e a luz dela vinha diretamente em meus olhos. Eu conseguia ver a luz de lá de dentro piscar, era como se minha visão estivesse em câmera lenta me dando mais motivos para eu achar que esse era meus últimos momentos de vida, fechei os olhos e esperei... Nada acontecia, eu não sentia sono, e dizem que quando você está prestes a morrer você vê toda sua vida passar diante de seus olhos em questão de segundos, mas nada disso estava acontecendo. Então desisti dessa idéia de achar que era minha hora de morrer e forcei-me para levantar, até que consegui, mas eu não conseguiria chegar muito longe. Já em pé tentei focar os olhos na porta que estava quebrada, só para ver se eu conseguia ver a mulher que eu acabará de me jogar quase quatro metros de distancia, mas só havia escuridão. Abaixei-me para pegar a lanterna que não estava mais piscando e sai o mais rápido dali, ou o mais rápido que eu conseguia andar agora.
A rua era a mesma de antes, com alguns rachados e alguns matinhos nas beiras da calçada. Nesse tempo todo eu imaginei que talvez fosse hora de amanhecer, mas apesar de todo o tempo que passou não se via uma só beira de claridade por ali, estava tudo tão escuro como antes, a impressão que eu tinha é que não havia passado um só segundo. Segui o mesmo lado em que eu estava seguindo antes de encontrar a loja. Depois disso tudo eu até esqueci que meu objetivo ali era encontrar Sophia, mas o último sinal que eu havia visto dela, tinha sido na casa do Sr.Calebe, mas agora, eu não fazia idéia de onde estava. Enquanto eu caminhava mancando eu dava umas olhadas para trás para ver se a mulher poderia vir atrás de mim, mas minha lanterna não alcançava um lugar tão longe assim, então eu só via escuridão. Eu já estava ficando tonto de tanto andar e não chegar a lugar nenhum, e enquanto eu andava, escutava risadinhas, que pareciam risadas de crianças brincando, acho que eu já estava acostumado a assustar então fingi que não tinha nada ali, só continuei andando.